O valor da Fotografia

Ontem fui com o Paulo Roberto ver a exposição retrospetiva de Eduardo Gageiro. A dada altura conversávamos acerca do valor da fotografia, da imagem. O que ela representava por o que mostrava e o que ela revelava sobre a técnica fotográfica. Foi uma questão que o Paulo, a dada altura, colocou aos seus alunos.

Duas imagens para fazer uma muito pequena dissertação sobre o assunto.

Duas fotografias da minha autoria:

A primeira o actor português Pedro Lamares, numa fase em que ainda era um ilustre desconhecido. Na outra, John Malkovich numa conferência de imprensa no Centro de Congressos do Estoril, durante o Estoril Film Festival.

Comecemos pela segunda. A foto de Malkovich vale por representar… o John Malkovich. Nada mais! A fotografia é perfeitamente banal e tecnicamente não tem nada que se lhe diga. O seu valor deve-se ao que representa enquanto retrato de um ator famoso, sobejamente conhecido e apreciado por muitos.

É uma fotografia digital, realizada num espaço público, no meio de muitos foto-jornalistas e jornalistas da imprensa nacional e internacional. Muita luz natural. A fotografia foi realizada a cor e depois passada a preto e branco. Duas únicas preocupações, conseguir uma expressão menos vulgar de John Malkovich (more friendly) e assegurar uma gama de cinzentos capaz de o diferenciar do fundo e manter um tom suave sem perda de pormenores.

A foto do Pedro não podia ser o mais oposto. Começa por ser realizada em estúdio. Na altura com material de iluminação muito rudimentar, mas, ainda assim, com perfeito controlo da iluminação. É uma fotografia analógica, realizada em diapositivo e processada em processo cruzado… Isto é; após exposto, o diapositivo é revelado como se fosse negativo e impresso em papel. Como resultado final obtemos uma paleta de cores “diferente”, com as altas luzes rapadas numa imagem de grandes contrastes.

Se a fotografia em diapositivo, só por si, exige um bom domínio das técnicas fotográficas, pois não há margem para erros; esta técnica é quase que um “tiro no escuro”. Mesmo dominando bem a técnica, é muito difícil que alguma coisa não saia errado.

Na altura eu usava rolos de 36 fotogramas e nesta sessão, lembro-me que usei apenas um. A finalidade era mesmo esta. A foto acima é a única que sobreviveu (o meu espólio analógico perdeu-se no tempo e nas mudanças de casa e humor…), é aquela que eu achei digna de ser mostrada publicamente. Todas as outras foram rejeitadas.

O valor da imagem está na revelação da técnica utilizada, não na figura representada. São estes dois valores que por vezes temos de distinguir.

A cereja no topo do bolo, aquilo que nos dá satisfação e que marca a nossa diferença, está quando reunimos as duas características numa única imagem.

Mas essa… Já não é para todos…

Até sempre.