Com exceção à imagem de capa, as imagens mostradas neste artigo não são da minha autoria. A sua utilização serve apenas como ilustração do texto e, em momento algum, deve ser entendido como uma critica ao trabalho técnico e/ou estético do autor. Algumas das imagens mostradas têm milhares de visualizações e centenas de gostos ou comentários. O nome dos autores é ocultado propositadamente para que não haja “colagens” dos meus comentários ao trabalho por eles realizado.
O sentido de leitura…
A forma como observamos uma imagem, ou “lemos” uma imagem (pintura, gravura, fotografia, etc.) prende-se com a forma como lemos ou escrevemos um texto.
O sentido de leitura é diferente e está diretamente relacionado com a cultura original do criador e, talvez mais importante, do destinatário.
Independentemente das origens do autor, se a imagem que ele realiza é para um público ocidental, o sentido de leitura utilizado deverá ser da esquerda para a direita e de cima para baixo.
Já se o destinatário for de origem oriental, o sentido da leitura será da direita para a esquerda e de baixo para cima.
Partindo do princípio que as nossas origens são ocidentais, se fecharmos os olhos e os abrimos repentinamente sobre uma imagem, o nosso foco vai ser o lado direito da imagem.
As regras existem para nos orientar. Na verdade, um dos exercícios mais estimulantes que um criador pode ter é como subverter as regras e acrescentar impacto na imagem. Na imagem acima, o autor (o mesmo da primeira imagem) utiliza as linhas diagonais desenhadas pelas colunas para nos guiar até à personagem que, embora esteja no centro da imagem, está descaído sobre a direita das linhas diagonais. Para além disso o autor utiliza uma leitura escuro claro da esquerda para a direita (temos tendência a seguir para o lado claro da imagem) que, em conjunto com as diagonais, conduz o nosso olhar para o individuo completamente negro. Este contraste do negro da personagem no caminho para o lado mais claro da imagem, fixa o nosso olhar naquele ponto e o resultado pretendido é atingido.
O autor usou uma série de conceitos de composição para subverter a regra básica e criar uma imagem com impacto.
Outro exemplo disto, talvez mais flagrante até, é a imagem seguinte.
A quantidade de informação
Um outro aspeto com que devemos ter cuidado é a quantidade de informação e a sua colocação na imagem.
Quando me confrontei com a imagem acima a primeira chamada de atenção foi para o ponto de luz acima à direita. Só depois o meu olhar desceu e reparei na sombra da ave a “passear”… Para mim a imagem resultou confusa, ficando sem saber bem o que pretendia o autor.
Se atendermos ao que foi dito acima, esta imagem poderia resultar melhor (sublinho o poderia) se o autor se tivesse concentrado na parte inferior da imagem. Apenas no passeio, no pássaro e no jogo de claro escuro…
Na realidade, por vezes, menos informação resulta num maior impacto da imagem final.
A comunicação…
Uma imagem, muitas das vezes, obtém impacto, não pelo que mostra, mas pelo que deixa entender, ou faz supor.
Nesta imagem o sujeito está a olhar diretamente para o fotógrafo e embora esteja no lado “errado” do enquadramento e a caminhar no sentido contrário da leitura ocidental, esta comunicação criada pelo olhar dele diretamente para o observador confere impacto à imagem. O jogo de claro escuro e o desfoque gradual do fundo completam a composição.
Outro exemplo é a imagem acima. Os olhares, a concentração das duas mulheres no trabalho a realizar no vestido, criam duas linhas diagonais imaginárias que levam o observador para o ponto de foco que, uma vez mais, está do lado esquerdo da imagem. Aqui, a parte escura também ajuda a desviar o olhar para o ponto de interesse: O trabalho minucioso que a costureira executa.
Reparem que nada nos diz qual a função do vestido. Pode ser um vestido de noiva, mas também pode ser um vestido para um baile de debutantes, ou para uma festa especial. O valor do vestido é intrínseco à atenção e cuidado que as duas mulheres lhe dedicam e é justamente esta comunicação entre as duas protagonistas e o vestido que traz impacto à imagem.
Compor uma imagem é uma arte que se desenvolve com o tempo e a prática. Quando fotografamos nem sempre pensamos nestas coisas. Muitas delas estão cá dentro e surgem naturalmente para mais tarde alguém dissertar sobre elas. Outras surgem no momento da edição que no tempo do filme era feito no ampliador…
O instantâneo, raramente o é. Na maioria das vezes resulta de uma visualização prévia e da espera para que se repita. A imagem de capa deste artigo é um exemplo disso mesmo. Mas para vermos as coisas temos de estar despertos para elas.
É essa a intenção deste artigo.
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